Dois amigos, um café. Um pegou a xícara, levou-a aos lábios e tomou-lhe um gole.
- Está fervendo! – disse, afastando-a bruscamente. – Mas está… delicioso.
Ele sorriu com o que escutou.
- Foi exatamente isso que eu pensei quando eu a conheci. Ela fervia, transbordava adjetivos que eu sabia que não podia aguentar, era demais pra mim. Porém ela era tão incrível, tão linda – por dentro e por fora – que eu resolvi arriscar. Esse café está gostoso, então vale a pena se queimar, não é? Ela também. Eu sabia dos riscos de acabar me machucando com ela, de acabar sofrendo, mas ela valia tanto a pena que não me importei.
O primeiro sorriu. Tomou-lhe mais um gole.
- É… doce. Porém amargo. Não consigo me decidir. Quanto mais tempo o líquido percorre minha língua, mais a cafeína muda seu sabor.
- Pois é… - ele soltou um riso sem humor – ela também era. Era doce, irresistível, a perfeição em forma humana. Mas quando meus sentimentos por ela começaram a não ser tão recíprocos… ela era amarga. Ou azeda. Simplesmente era ruim. Ela podia ser uma coisa em um momento, e no outro, algo completamente diferente. E eu sei que mesmo tendo esses dois gostos, você continuará bebendo esse café. Do mesmo jeito que eu continuei amando-a com essa constante mudança.
O primeiro bebeu um último gole, sentiu uma vontade compulsiva de cuspi-la de volta e fez uma careta.
- Está… está… horrível! Não consigo mais beber isso.
Ele se inclinou sobre a mesa, apertou os olhos.
- Está ruim porque o café esfriou completamente – suspirou forte -, e o mesmo aconteceu com os sentimentos dela.
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